Bate Papo
Conversas com a equipe de criação das videodanças em encontros para o compartilhamento dos processos de criação das obras.


Bate papos nacionais ao vivo
Bate papos internacionais
Entrevistas disponíveis com legenda em português a partir do dia 30 de Junho de 2025 com medição de Anderson Feliciano, Cib Maia e Raquel Pires.
Perguntas sobre o filme Simulation
1. Ao assistir ao seu trabalho, fica claro que o cenário é um elemento crucial. Em Simulation, vemos três ambientes distintos, cada um muito específico e particular. Eles parecem fictícios, mas de alguma forma reais. Você poderia falar sobre como escolheu esses locais? Você teve que construí-los, modificá-los ou criá-los de alguma forma? E qual o papel que os espaços fictícios ou reais desempenham no seu processo artístico?
Os locais em Simulation fazem parte de um centro de experiência em segurança operado pela cidade. Essas instalações são projetadas para que crianças simulem cenários de desastres e acidentes por meio de cenários construídos. Eu via esses espaços como 'locais para ensaiar o futuro — praticar eventos que ainda não aconteceram'. Embora as situações sejam fictícias, as performances se desenrolam em tempo real, criando uma sobreposição entre ficção e realidade. Isso obscurece a sequência usual de intenção e ação, causa e efeito, conteúdo e forma. Esses espaços carregam a natureza teatral de serem desmontáveis e reconstruíveis, como um palco que pode ser reconstruído a qualquer momento após um incêndio ou desmoronamento.
2. Há um contraste marcante entre um mundo que parece estar 'desmoronando' e a expressão de passividade, impotência, exaustão — ou até mesmo serenidade — do dançarino. Você poderia falar sobre sua decisão de trabalhar com esses contrastes? Sobre o dançarino: Como você chegou à personificação e à fisicalidade específicas neste trabalho?
O artista não segue os protocolos de segurança esperados para cenários de desastre. Em vez disso, ele responde com seus próprios movimentos — ou, às vezes, simplesmente se rende à situação. Ele parece vivo demais para ser impotente, mas vulnerável demais para ser considerado resiliente. Seus gestos incorporam um desamparo internalizado diante de circunstâncias incontroláveis, servindo como uma forma de responder por meio de sua própria linguagem. Esta performance propõe um desvio para todos nós que vivemos entre a crença em um caminho seguro para o amanhã e a ansiedade de que tal caminho possa não ser mais válido. Ela questiona ao que precisamos nos agarrar ou em que precisamos nos apoiar para seguir em frente.
3. Em Simulation, você utiliza três poderosos elementos naturais: fogo, ar (vento) e água. Curiosamente, o dançarino responde de forma semelhante a cada uma dessas forças. Você se interessou mais em explorar como o corpo vivencia esses elementos ou se atraiu pelo seu significado simbólico? Poderia nos contar mais sobre essas escolhas e o que elas representam para você?
Este trabalho apresenta desastres simulados como incêndios, terremotos, tufões e inundações. À medida que a fumaça sobe, o chão treme, as luzes piscam e a água entra — um ambiente artificial cria incidentes plausíveis, porém falsos, que provocam reações corporais aparentemente apropriadas. Em última análise, Simulation não se trata tanto do desastre em si, mas sim da relação entre simulação e realidade. Por exemplo, os movimentos do artista nunca visam à fuga, porque, na verdade, nenhum desastre jamais ocorreu.
Todo o espaço em Simulation está sob controle rigoroso. Cada evento é encenado, produzindo efeitos catastróficos por meio de um sistema de regras e condições. Dessa forma, o artista se move dentro de um espaço que jamais poderia existir na vida real. Aqui, ficção e realidade se entrelaçam de maneiras inusitadas, fundindo-se e infiltrando-se continuamente. A ficção não apenas replica a realidade, mas também a põe em movimento.
4. Por fim, você poderia compartilhar um pouco sobre seu papel na direção? Você aborda seus projetos com uma visão clara ou o processo criativo é mais colaborativo? Gostaria de saber quanta contribuição o dançarino teve na construção da peça e se as ideias com as quais você trabalha são mais abertas ou já estão definidas quando você começa.
Eu tinha uma estrutura conceitual ampla em mente desde o início, mas não trabalhei com um roteiro completo. O projeto dependia fortemente da improvisação em resposta a fatores externos. Ofereci ao artista situações e condições específicas e depois me afastei, intervindo o mínimo possível enquanto observava como as coisas se desenrolavam.
Em vez de induzi-lo a agir dramaticamente ou a se mover como se estivesse dançando, eu queria ver como ele reagiria como um acrobata lidando com uma situação da vida real. Acredito que, às vezes, isso pode expressar mais do que uma atuação roteirizada e evocar emoções mais profundas do que uma dança coreografada.
Mediadores

Anderson Feliciano
Artista convidado de Terrestrial (USA), projeto que entrelaça coreografia, performance e pensamento futurista especulativo. Coordena o Núcleo de Pesquisa em Performatividades Negras do Galpão Cine Horto (BH). Como performer, participou de festivais em países da América Latina, Europa e também nos Estados Unidos. Fez curadorias para o Festival Internacional de Artes Cênicas Negras e Mapuches Kurüche (Chile) e o Projeto Terrestrial (Estados Unidos). É autor de Pôr do Sol (Mazza/2024), O início, coautoria de Mário Rosa, (2022), Tropeço (Javali/2020). Recebeu o Prêmio Leda Maria Martins por Prelúdio a Ismael Ivo (2023), InSã: o universo do Rosário em nós (2020), Ensaio sobre fragilidades (2019) e Apologia III (2018).

Cib Maia
A multiartista Cib Maia atua em todo o território nacional e também internacional, promovendo parcerias e intercâmbios artísticos e técnicos em mais de 10 países na América Latina, Europa e Ásia. Sob caráter transdisciplinar, desenvolve projetos culturais de experimentações cênicas e audiovisuais. Em suas intervenções urbanas, integra o movimento dos corpos às arquiteturas das cidades. Em suas performances, ocupações e oficinas, provoca artistas e o público a criarem um novo espaço, também público.

Clóvis Domingos
Clóvis Domingos é artista cênico, pesquisador acadêmico, crítico teatral e mediador cultural. Pós-Doutor em Artes Cênicas pela UFOP. Editor no site Horizonte da Cena. Atua nas áreas de performance e subjetividade, processos de criação colaborativa, dramaturgismo, intervenção urbana e arte e saúde mental. Tem textos e artigos publicados em diversas revistas e livros.

Raquel Pires
Bailarina, improvisadora, professora e pesquisadora. Integra o corpo docente do Curso de Dança do Departamento de Artes Cênicas da UFMG desde 2014, atuando principalmente nas áreas de Improvisação, Educação Somática, Vídeo dança e Práticas artístico-pedagógicas. É doutora pelo Programa de Pós-graduação Artes da Cena na UNICAMP.

Verusya Correia
Doutoranda, bolsista da FAPESB e Mestre do Programa de Pós-Graduação em Dança da UFBA. Idealizadora e Diretora Artística do Festival de Dança Itacaré. Dirige o grupo de dança Núcleo da Tribo. Autora do livro Pilates & Dança: livro aula para práticas de Coreotonia. Produziu o filme Fronteira e documentário Tenho ouvido pra dançar em 2021. Hoje é professora substituta da UFSB/CJA.